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E aí, seres humanos, beleza?
Juro do fundo do meu coração que nunca imaginei que estaria debatendo ou trazendo esse assunto à tona. Sempre levei isso como uma brincadeira ou meme, mas minhas análises recentes me mostraram que tratar isso dessa forma só contribui para que pessoas mal-intencionadas alimentem e usem esse discurso ainda mais. E é aquela história: se você não está disposto a trazer uma discussão dessas para as pessoas, seus "inimigos" certamente estarão, e permitir que isso venha deles pode não ser tão interessante assim. Depois, não se arrependa do que resultar disso, pois você permitiu que acontecesse.

Para dar início a essa questão, informo que me baseio no livro de Silvio Almeida, Racismo Estrutural (2019). Quero usar essa obra como base para a discussão. No dia 31/07/2023 (para ser mais claro), tive o prazer de apresentar um debate em sala de aula, norteado por esse livro. A pauta foi tão boa e interessante que resolvi trazer para o blog e até para o canal, aproveitando meu projeto de levar o canal ao Spotify. Acredito que essa pauta seja a mais ideal para começar.
Vamos começar pelo começo: o que é racismo?
É muito comum a confusão entre racismo e preconceito. Todo racismo é uma forma de preconceito, mas nem todo preconceito é racismo. Sei que essa definição não esclarece muita coisa, mas vamos chegar lá. Primeiro, para que haja racismo, precisamos ter uma posição de privilégio, ou seja, uma relação de dominação entre uma raça e outra. Esse privilégio precisa refletir na esfera política, social e econômica. Nas palavras de Silvio de Almeida, "o racismo – que se materializa como discriminação racial – é definido por seu caráter sistêmico. Não se trata, portanto, de apenas um ato discriminatório ou mesmo de um conjunto de atos, mas de um processo em que condições de subalternidade e de privilégio que se distribuem entre grupos raciais se reproduzem nos âmbitos da política, da economia e das relações cotidianas. O racismo articula-se com a segregação racial, ou seja, a divisão espacial de raças em localidades específicas – bairros, guetos, bantustões, periferias etc.". Ou seja, para que haja racismo, é necessário haver essa relação entre dominante e dominado.
Entendendo esse contexto, se pensarmos no Brasil, que foi um dos últimos países a abolir a escravidão, até hoje se nega a ideia de "racismo estrutural".
Claro que devemos entender as diferentes estruturas de cada país. O Brasil não é como os Estados Unidos em relação à política de segregação racial, mas isso não altera o fato de que o racismo é real e acontece até os dias atuais.
Precisamos deixar claro que existe, sim, preconceito e discriminação contra pessoas brancas, mas racismo, não.
De forma bem simples e explicativa: negros podem cometer preconceito e discriminação contra essas "maiorias", porém não racismo, pois um negro não pode impor desvantagens. Nas palavras do próprio Silvio, "Brancos não perdem vagas de emprego por serem brancos, não são suspeitos de crimes simplesmente por serem brancos...". Esses fatos são o que tornam a ideia de "racismo reverso" completamente impossível. Pessoas brancas podem sofrer preconceitos e discriminação, mas racismo não. Para que isso seja classificado como racismo, é necessário haver uma relação histórica, política e econômica de dominação, e as estruturas sempre favoreceram essas pessoas, o que torna essa ideia ilógica.
Mas onde o racismo se reflete na estrutura?
Bom, essa é uma pergunta fácil de responder. Sabemos que existem indivíduos racistas, mas dizer que o racismo se limita ao indivíduo é ignorar toda a história da nossa nação. Vamos por partes: se temos indivíduos racistas e esses indivíduos estão à frente de instituições, quais valores essas instituições irão refletir? Não precisa de muito para entender a matemática da estrutura: Indivíduos + Instituições = Estrutura. Vamos dar um exemplo concreto, retirado do livro: a famosa regra da "boa aparência", que muitas empresas aplicam em sua seleção. Se observarmos com atenção, perceberemos que essas características são típicas de pessoas brancas. Durante muito tempo, as mulheres negras (e até hoje, ainda ocorre) eram obrigadas a alisar o cabelo para conseguir manter-se nos empregos. Parece surreal, mas muitas vezes podemos imaginar a seguinte situação: "Mas a lei proíbe essa conduta". Vamos refletir: você acha que uma mãe de família ou uma jovem recém-formada que precisa trabalhar saberia que a empresa não pode fazer isso, ou pensaria em processo? É óbvio que não. Então temos um ciclo vicioso: indivíduos agindo nas instituições, as instituições gerando a estrutura e a estrutura recaindo sobre os "novos indivíduos", e esse ciclo segue até os dias de hoje de forma constante.
Mas como podemos mudar, se é que podemos?
Como todo bom psicólogo diria, o primeiro passo é admitir que temos um problema, e o problema é: "todos somos racistas". Sim, todos, eu, você, ele, aquele... No fim, todos nós. Aceitar isso é o primeiro passo, e agora precisamos trabalhar e exercitar juntos para desconstruir esse comportamento. Alguns exercícios interessantes que vi algumas pessoas fazendo são: consumir mais conteúdos feitos por negros – jornais apresentados por negros, músicas feitas por cantores negros, artes feitas por artistas negros. Outros vão um pouco mais a fundo e começam a frequentar ambientes distintos, como rodas de samba, capoeira, entre outros. Analise as perspectivas políticas do seu partido ou do seu político, veja se há propostas que incluam os negros ou se têm falas racistas, para que você possa repreender e não permitir que esse tipo de coisa vá para frente. Olhe seu vocabulário, frases como "tinha que ser preto", "serviço de preto", "cheirando a neguinho...", e retire-as de seu vocabulário. Pode parecer pouco, mas esse pouco, feito por muitos, fará uma grande diferença na vida das pessoas e nas estruturas.
Dica literária: Racismo Estrutural - Silvio Almeida
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